sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

História e Lendas de Paraty

Como todas as velhas cidades, Paraty vive tanto da História como da lenda. Diz a História que por volta de 1630 João Pimenta de Carvalho, proprietário em Angra, vendeu as terras que tinha ao major Carlos da Silva, desgostoso com uma questão de limites, e colocou a família num barco, rumando para o sul, ao 16 de agosto do mesmo ano alcançou uma praia que lhe apareceu boa para recomeçar a vida. Como era dia de São Roque, decidiu erigir uma capela em honra daquele santo.
A lenda acrescenta às origens do povoado os benefícios de um misterioso Roque José da Silva, que teria naufragado ao largo de Paraty ainda menino, salvando-se com uma arca repleta de ouro e pedras. Roque guardou numa gruta da serra e sempre que precisava de dinheiro desaparecia da vila. Tornou-se influente e chegou a organizar frota própria para transporte dos produtos que desciam de São Paulo para o porto de Paraty. Numa das idas à serra da Bocaina foi mordido por um gato raivoso e morreu. A fortuna ficou inteira para uma filha adotiva, Geralda Maria da Silva, que fez grandes doações à Igreja da matriz em construção e lá sepultou o pai, em 1860.
Aos poucos, foram surgindo casas, sobrados, engenhos, igrejas e fortificações, tudo em função do porto. A Vila de Nossa Senhora dos Remédios de Paraty (título obtido a 28 de fevereiro de 1667) transformava-se num importante centro de comércio, passagem obrigatória para quem vinha do Rio em direção às Minas Gerais, além de ser o principal escoadouro das riquezas extraídas das minas do interior. Aliás, quando o ouro passou a ser explorado em larga escala, Paraty já era cidade com mais de 16 mil habitantes, 150 engenhos, 12 usinas e 1.700 casas.
Em seu porto, além de escravos, fumo, carne de porco, café, arroz, feijão, cana-de-açúcar, mandioca, e as famosas aguardentes da região foram comercializados cerca de 01 milhão de quilos de ouro e cerca de 100 quilos de pedras preciosas. Para proteger tanta fortuna, além dos fortes que cercavam Paraty por terra e mar, ergueu-se um enorme portão de ferro, que fechava a entrada da Vila as seis da tarde, ao som de um tiro de canhão.
O devassamento das terras de Paraty, foi motivado pela necessidade da abertura de caminhos, que ligassem as regiões de São Paulo e, principalmente, as das Minas Gerais com o Rio de Janeiro. Do começo do século XVI aos princípios do Século XVII, quando a Serra do Mar era tida como obstáculo intransponível, Paraty desfrutou a regalia de ser considerada ponto obrigatório de passagem e estacionamento dos viajantes, que buscavam o interior de São Paulo, Minas ou que dele viessem, demandando o litoral. Ainda em 1597, Martim Correa de Sá, filho do Governador Salvador de Sá, aproveitou, como melhor até então conhecido, o roteiro misto, marítimo-terrestre, via Paraty para alcançar as “Minas Novas” ou “Minas Gerais”. Embarcando no Rio de Janeiro chegou, por mar, à Paraty acompanhado de 700 portugueses e 2.000 índios, penetrando em São Paulo, rumo a Pindamonhagaba, onde atingiu a vale do rio Paraíba, cujo curso seguiu até chegar à foz do rio Paraibuna, de onde se internou nas terras das “Minas Gerais”. Vê-se, pois, que, em fins o século XVI, já a localidade era bem conhecida, tanto assim, que uma expedição tão vultuosa e cara, era arriscada no itinerário cuja base deveria, forçosamente, ter sido bem estudada. É que desde princípios do século, já muitos tropeiros haviam percorrido pelos caminhos daquela rota, plantando aqui e ali os seus ranchos, marcos iniciais das povoações que mais tarde floresciam.

VILA

Em 1660, por ato de rebeldia, o capitão-mor de São Vicente, Jorge Fernandes da Fonseca, elevou o povoado à categoria de vila, o que, causou protestos da Câmara de Angra dos reis, alias não atendidos por D. Afonso VI, que confirmou a criação da vila em 28 de fevereiro de 1667.
Outra versão diz que, nesse mesmo ano, tal era o progresso da localidade, que um paratiense decidido, Domingos Gonçalves de Abreu, requeria, em nome do povo, ao capitão-mor de São Vicente, a elevação do povoado á categoria de vila, levantando antes da proposta ao requerimento e por sua própria conta, o pelourinho, símbolo da autonomia e autoridade. Angra dos Reis, a cuja jurisdição estava sujeita a povoação, se opôs a que tal idéia se colimasse, sendo, todavia, vencida a sua resistência, em face da atitude desassombrada do povo de Paraty que reclamava fosse reconhecida sua autonomia. Com o crescimento do povoado começaram a surgir litígios entre os seus habitantes, dando ensejo ao aparecimento de casos, cuja solução era praticamente impossibilitada, dada à distância em que se encontravam as autoridades angrenses. Diante desses fatos, o Ouvidor-Geral pediu providências ao governo, que houve por bem elevar a povoação à categoria de vila, por força da carta-régia de 28 de fevereiro de 1667, contrariando as alegações interesseira da Câmara de ilha Grande (atual Angra dos Reis).
Criada a Capitania de São Paulo, independente da do Rio de Janeiro, informa ao autor supracitado, “suscitaram-se sobre a qual das duas teria jurisdição sobre a vila de Paraty e a contenda entre os governos das duas capitanias se prolongou de 1720 a 1726, época em que D. Pedro II, de Portugal, proferiu decisão favorável à do Rio de janeiro”.
Até 1725, rápido foi o progresso da vila de Paraty, a partir desse ano, porém, aberto e entregue ao tráfego o chamado “caminho novo”, que a excluía do roteiro para as “Mina Gerais”, reduziu-se o seu comércio.

CIDADE

Todavia, durante o Segundo Império, a vila de Paraty estava ainda em seus dias de progresso, porquanto, pela Lei provincial nº 302, de 11 de março de 1844, adquiriu foros de cidade, o que foi confirmado pelo Decreto Estadual nº 28, de 03 de janeiro de 1890, já na era republicana.
Paraty em 1714 ajudou a pagar o resgate do Governador do Rio de janeiro, aprisionado pelos franceses fornecendo 300 caixas de açúcar, 200 bois e 580 homens para a defesa da cidade invadida.
O colapso de sua economia deu-se com o advento da Lei Áurea, que motivou o abandono de inúmeras lavouras. Devido a isso, vários cursos de água tiveram seus leitos obstruídos redundando no extravasamento das águas e conseqüente formação de pântanos, que vieram prejudicar a salubridade de suas terras.
A falta de comunicações terrestre, quando o Estado se viu cortado por ferrovias e rodovias, foi outro fator preponderante para a estagnação da vida municipal.
A comarca de Paraty, criada por força do Decreto nº 31, de 03 de janeiro de 1890, foi extinta por efeito do Decreto nº 8, de 19 de dezembro de 189l, e restabelecida em virtude do Decreto nº 398, de 16 de agosto de 1897.
O Decreto nº 667, de 16 de fevereiro de 1901, extinguiu novamente essa comarca, passando o termo de Paraty a pertencer à comarca de Angra dos Reis, situação essa que perdurou até 12 de setembro de 1957, quando, pela Lei nº 3382, dessa data, foi restabelecida.

MONUMENTO

Em 1945 foi a cidade considerada “Monumento Histórico e Artístico Nacional” (IPHAN), inscrita no Livro do tombo Arqueológico Etnográfico, Paisagístico e no Livro de Balas Artes, no dia 13 de fevereiro de 1953, ditando as Leis de Preservação da arquitetura paisagística da cidade; finalmente em 24 de março de 1966, pelo Decreto nº 58.077 foi o Município de Paraty convertido em Monumento Nacional.

PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Não se pode falar em Paraty sem fazer alusão, também, às montanhas
escarpadas que se convergem para o mar; às inúmeras ilhas e penínsulas espalhadas pela Baía da Ilha Grande. Mas sem nenhuma dúvida são as suas construções que fazem tão interessante e peculiar. Segundo Lúcio Costa “do ponto de vista da arquitetura civil, Paraty é mais um testemunho daquela serena maturidade a que a colônia – impedida de qualquer contato que não fosse com o mundo português – se viu conduzida, como criança asilada, e da qual resultou esse modo simples e peculiar de ser e de expressar-se, isto que, em termos arquitetônicos, se traduz no que se chama de ESTILO – o nosso estilo: plantas regulares, alçadas simples, pequenos saguões, recortes de madeira, treliças de resguardos, caixilharias envidraçadas, beirais coloridos. Tanto nas casas de feição mais severa e antiga, quanto naquelas concebidas ao gosto já liberto e acolhedor de meados de oitocentos, caracterizado pelo gracioso desenho das vidraças e pela serralheria rendada, o vocabulário é o corrente, e a linguagem urbana se articula com naturalidade à paisagem, contida entre o fundo de montanha e o ritmo largo e alternado da maré. Porque Paraty é a cidade onde os caminhos do mar e os caminhos da terra se encontram, melhor, se entrosam. As águas não são barradas, mas avançam cidade à dentro levadas pela lua, e o reticulado de ruas, balizado pelas igrejas”. O traçado das ruas de Paraty, urbanisticamente perfeito, é em T, e visava defender a cidade contra invasões dos piratas, são dezesseis ruas na área urbana.
De forma quadrangular, o Centro Histórico, é cercado por correntes de ferro, que impedem a passagem de carros. As casas do núcleo histórico foram construídas com uma argamassa contendo óleo de baleia, animal caçado até desaparecer na Baía Grande. As Igrejas, por sua vez, foram erguidas com pedras vindas da Europa, refletindo a fase áurea da cidade.
A predominância do branco e azul Hortência, desperta curiosidade. Como a cidade foi urbanizada por maçons, essas cores foram escolhidas por serem as mesmas da Maçonaria Simbólica e da cidade de Óbidos, cidade maçônica em Portugal. É a eles também atribuído o traçado irregular das ruas, cujo objetivo era evitar o vento encanado nas casas e permitir que a luz solar atingisse em igual proporção todas as residências. Soma-se a essas características uma outra com a mesma importância: as colunas em forma de pórtico de cada lado da porta de entrada das casas. Elas indicavam ali morar um maçom disposto a prestar ajuda necessária ao viajante.

4 comentários:

  1. eu achei MUITO legal esse seu blog! voce ta de parabéns!

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  2. O mais bacana está sendo ler esse blog estando aqui na cidade, sentado numa varanda de frente para o mar,podendo ver o significado de cada detalhe desse lugar tão tranquilo e acolhedor.
    Parabéns para o criador do blog, acrescentou muito à minha viagem e ao conhecimento dos meus filhos.
    Forte abraço

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    1. Bom dia! Embora muito atrasado agradeço o comentário. Estou a disposição para o que precisar aqui na terrinha. Um forte abraço

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